terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #20

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #20


Codex Regius:




Graþugr halr ne[m]a geðs
viti etr aldr trega opt f[ę]r hl[ę]gis er m[eþ] horsco[m] k[ǫm]r
man[n]i hei[m]sco[m] magi.

Tradução:
O homem guloso, a não ser que controle sua mente,
comerá para si longa miséria.
Sempre atrai escárnio, quando se senta com os sábios,
o homem tolo de estômago.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #19

Dicas de Odin
(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #19


Codex Regius:




Haldit [maþr] akeri drecki þo at ho
fi mi[au]ð. Męli þarft eþ[a] þegi. Okynis þ[ess] var þic engi
[maþr] at þu gang[ir] sne[m]ma at sofa.

Tradução:

Não se deve prender-se ao cálice, mas beber hidromel com moderação.
Falar apenas o necessário ou silenciar-se.
Ninguém lhe acusará de falta de educação
se você for dormir cedo.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #18

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #18


Codex Regius:





Sa ein[n] veit e[r] viða
ratar [oc] hef[ir] fiolþ um fariþ. Hv[er]io geði styr[ir] gu[m]na hv[e]r[r]
sa er vitandi er vitz.

Tradução:
Apenas aquele que muito vagou
e viajou vastamente conhece
cada mente que guia cada homem,
aquele que, sabendo, é perspicaz. 

sábado, 28 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #17

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #17


Codex Regius:




Kopir afglapi
er t[il] kyn[n]is k[ǫm]r þylsc h[ann] um eþ[a] þrum[ir]. Alt er sen[n] ef h[ann]
sylg um getr up[p]i er þa geþ guma.

Tradução:
O tolo boceja quando vem para uma visita.
Ele resmunga consigo mesmo ou permanece quieto.
Tudo vem à tona se ele toma um gole.
Revelada, então, é a mente do homem.


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #16

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #16


Codex Regius:




Osniallr [maðr] hyg[g]z muno ey lifa ef h[ann] viþ vig varaz. En[n]  elli
gefir h[an]om engi f[ri]þ þot[t] h[an]o[m] geirar gefi.

Tradução:
O homem ignorante acredita que viverá para sempre
caso se mantenha longe da batalha.
Mas a velhice não lhe dará paz,
mesmo que as lanças o façam.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #15

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #15


Codex Regius:



(Muda a página no manuscrito)



Þagalt [oc] hugalt scyli þioðans barn oc vigdiarft vera.
glaþr [oc] reifr scyli gumna hv[err] unz sin[n] biþ[r] bana.

Tradução:
Discreto e pensativo deve ser o filho de um rei,
e valente na batalha.
Alegre e feliz deve ser o filho de cada homem
até esperar pela sua morte.


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #14

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #14


Codex Regius:



Aulr ec varð varþ ofrolvi at ins froða fialars
þ[vi] er [au]lðr baztr at aptr uf heimt[ir] hv[err] sit[t] geð gumi.


Tradução:
Bêbado eu estava. Estava bêbado demais
na casa do sábio Fiall¹.
Pois a melhor bebedeira é aquela em que, depois, cada um
recupera seu juízo.
_______________________________________________
[1] Ainda uma referência ao mito do roubo do Hidromel da Poesia por Odin.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #13

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #13


Codex Regius:



Omin[n]is hegri heit[ir] sa er yf[ir] [au]lþro[m] þrum[ir] h[ann] stelr ge[ði]
guma. Þes[s] fugls fi[au]ðro[m] ec fiotraþ[r] varc i garði Gun[n]la
þar.


Tradução:
Garça do esquecimento chama-se     aquilo que paira sobre os homens.
Ele rouba o juízo humano.
Nas plumas deste pássaro eu fui aprisionado
na corte de Gunnlod¹.
_________________________________
[1] Esta é uma referência deslocada de um mito narrado mais adiante no poema, nas estrofes 104-110, e relatado, também, no Skáldskaparmál da Edda em Prosa. Ele conta como Odin roubou o Hidromel da Poesia do gigante Suttung e o trouxe para os Aesir (a principal família dos deuses nórdicos). Ele deitou-se com Gunnlod, a filha do gigante, que guardava os três recipientes com o Hidromel. Com sua ajuda, Odin deu três goles, um em cada recipiente, e voou de volta para casa em forma de águia.


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #12

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #12


Codex Regius:




Era sva gott sem got[t] q[ve]þa [au]l alda
sona. Þ[vi]at f[æ]ra veit er fleira dreccr sins  t[il] geðs gumi.


Tradução:

Cerveja não é tão bom quanto dizem
para os filhos dos homens.
Pois quanto mais se bebe, menos se sabe
sobre o caráter humano.


domingo, 22 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #11

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #11


Codex Regius:



Byrdi b[etri] b[errat maðr brauto at enn se man vit micit] vegnest v[err]a veg[ra] h[ann] velli at
enn se of dryccia [au]ls.

Tradução:

Fardo melhor um homem não carrega na estrada
do que uma grande perspicácia.
Piores mantimentos ele não carrega pela planície
do que estar bêbado demais de cerveja.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #10

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #10


Codex Regius:



Byrþi bet[ri] berrat [maðr] br[au]to at
en[n] se man vit micit [au]ði bet[ra] þic[c]i[r] þ[at] i okun[n]o[m] stað slict
e[r] valaþs vera.

Tradução:

Fardo melhor não se carrega na estrada
do que uma grande perspicácia.
Melhor do que riqueza    ela parecerá em locais desconhecidos.
Assim é para o pobre.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #9

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #9


Codex Regius:



Sa e[r] sęll
er sialfr u[m] a lof [oc] vit meþ[an] lif[ir]. Þ[vi]at ill rað hef[ir] [maðr] opt
þegit annars briosto[m] or.

Tradução:

Feliz é aquele que possui, ele mesmo,
boa reputação e sabedoria enquanto vive.
Pois mau conselho     recebe-se, com frequência,
do peito de outrem.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #8

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #8


Codex Regius:



Hin[n] er sęll e[r] ser um getr lof [oc] licn stafi. Odǫlla er við þ[at] er maðr eiga sc[al] an[n]ars briostu[m] i.

Tradução:
Feliz é aquele      que toma para si
boa reputação e respeito.
É a coisa mais difícil     um homem precisar ter
o que está no peito do outro.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #7

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #7


Codex Regius:



[I]n[n] vari gestr e[r] t[il] v[ei]þar
k[om]r þun[n]o hlioþi þeg[ir]. Eyro[m] hlyd[ir] en[n] augo[m] scoðar s[va] nysiz
froþ[ra] hv[er]r f[yrir].

Tradução:
O convidado cauteloso     que chega para uma refeição
fica em silêncio, com a audição aguçada.
Escuta com os ouvidos, e, com os olhos, analisa.
Assim cada homem sábio se informa.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #6

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #6


Codex Regius:



At hy[g]giandi sin[n]i scylit maþr
hr[œ]sin[n] v[er]a hęldr gętin[n] at geði þa e[r] h[o]scr [oc] þ[ǫ]gul[l] k[øm]r
heimis garða til sialdan v[er]þr viti voro[m] þ[vi]at o[brigðra]¹ vin
f[æ]r [maðr] aldregi en[n] manvit micit.

Tradução:
Sobre sua inteligência     homem algum deve ser esnobe,
mas comedido em seu juízo.
Quando alguém sagaz e quieto    chega a uma residência,
raramente a adversidade      acomete o cauteloso.
Pois um amigo mais confiável    alguém jamais terá
do que uma grande perspicácia.
_________________________________________________
[1] Ilegível na versão escaneada, copiado de Neckel & Kuhn.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #5

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #5


Codex Regius:



Vitz er þǫrf þei[m] er viþa
ratar dęlt er heima hvat. at auga bragði  v[erþr] sa e[r] ecci 
kan[n] [oc] m[eð] snotro[m] sitr

Tradução:

Perspicácia é necessário       àquele que muito viaja,
em casa tudo é fácil.
Torna-se mal visto
aquele que nada conhece
e se senta com os sábios.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #4

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #4


Codex Regius:



Vatz er þǫrf þei[m]
er t[il] v[er]þar kœ[mr] þerro [oc] þioðlaþar goþs um oþis¹ ef s[er] ge
ta mętti orþz [oc] endr þǫgo.


Tradução:

Água é necessário     àquele que veio para uma refeição,
uma toalha e boas vindas,
boa vontade,              se ele puder tê-lo,
uma conversa e silêncio recíproco.
___________________
[1] Apesar de no manuscrito constar claramente "oþis", tanto Evans quanto Neckel e Kuhn ajustaram a letra "o" para "œ", o que resulta em "œþis", gen. sg. do substantivo neutro "œþi": disposição, caráter, mente.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #3

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #3


Codex Regius:


Eldz er
þǫrf þei[m]s in er komi[nn] [oc] a kne kalin matar [oc] vaða er
er m[ann]e þǫrf þeim e[r] hef[ir] u[m] fiall fariþ.

Tradução:

Fogo é necessário      àquele que chegou
gelado nos joelhos;
Comida e roupas        são necessárias ao homem,
àquele que viajou pela montanha.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #2

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #2


Codex Regius:

Gefendr heilir gestr e[r] komi[nn] hvar s[cal] sitia sja miok er
braðr sa er abrǫndo[m] s[cal] sins u[m] freista f[ra]ma.

Tradução:

Saúde aos anfitriões¹!         Um hóspede chegou.
Onde deve se sentar?
Grande é a pressa             daquele que diante das brasas²
deve testar sua sorte.

[1] gefandi (m.), pl. gefendr: Relacionado ao verbo gefa - dar, doar. Literalmente, aquele que dá. Neste caso, o que dá abrigo, o anfitrião.

[2] á brǫndum: Literalmente, "nas brasas", referentes ao fogo das grandes lareiras que ficavam no centro dos salões.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #1

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

Estrofe #1


Codex Regius:



Gattir allar aþr
gangi fram u[m] scoðaz scyli u[m] scygnaz scyli þviat
ovist e[r] at vita hvar ovin[ir] sitia a fleti f[yrir].

Tradução:

Todas as portas,     antes de seguir adiante,
deve-se olhar ao redor,
deve-se observar em volta;
pois é incerto saber     onde os inimigos
se sentam no salão¹ à frente.

_________________________
[1] flet (n.), no dativo sg., fleti: Refere-se a tábuas elevadas que ficavam junto às paredes dos salões e que serviam de bancos ou camas. A partir daí, tem-se flet como o "banco ao longo do salão". A opção de diversos tradutores estrangeiros e a sugestão de glossários costuma ser simplesmente traduzir o termo por "salão". Apesar de "banco" ser um termo mais fiel ao original gramaticalmente, acredito que, no contexto moderno, a palavra "salão" dê uma descrição mais plástica da cena. "Banco" evoca algo muito mais simplório do que um "flet" representava.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Dicas de Odin #0 (Introdução)

Dicas de Odin

(ou Hávamál - Os dizeres do Altivo)

#0 - Introdução


Ilustração por Lorenz Frølich
"Den Ældre Eddas Gudesange", Gjellerup e Frølich (1895)
Disponível aqui  

Minha primeira série fixa de postagens apresentará minhas traduções, direto do Nórdico Antigo, estrofe por estrofe, de Hávamál, “Os Dizeres do Altivo”. O título “Dicas de Odin” é uma brincadeira com o conteúdo deste que é o segundo poema da Edda Poética, uma vez que nele constam diversos conselhos proferidos pelo deus sobre como os homens devem conduzir suas vidas. Uma excelente introdução à obra está no livro “Hávamál”, editado por David A. H. Evans, da Viking Society for Northern Research (VSNR), disponível de graça no site da entidade (link aqui). Neste livro, além do texto do poema em Nórdico Antigo, estão comentários sobre diversos autores e estudos sobre o mesmo. Farei aqui um breve resumo baseando-me em sua introdução. Está disponível também online o glossário, compilado por Anthony Faulkes (link aqui)


Infelizmente, como a grande maioria da literatura nórdica, este poema não está publicado em livro em português. Eu, pelo menos, nunca consegui encontrar. Acredito que pela internet seja possível encontrar algumas traduções, mas eu prefiro não lê-las inicialmente para que não haja influências no meu próprio trabalho. Depois de terminado, sem dúvida irei consultá-las. Para aqueles que leem inglês, uma excelente edição em livro é a de Carolyne Larrington, que traduziu na íntegra a Edda Poética. Embora, como toda tradução, ela apresente alguns problemas, esta é uma versão com um inglês bem moderno e inteligível.

Tradução de Larrington para a Edda Poética
(Link para a Amazon)


Hávamál é um poema muito peculiar em relação aos demais presentes na Edda Poética. Primeiramente, os estudiosos apresentam certa dificuldade em enquadrá-lo nos dois grandes blocos de poemas édicos: os mitológicos, que tratam de deuses e da cosmogonia e escatologia; e os heroicos que, como o nome sugere, relatam as gestas de heróis. Hávamál é considerado um poema mitológico, mas diferentemente dos demais assim categorizados, ele trata, em grande parte, de conteúdos mundanos, do dia-a-dia dos homens e suas atividades corriqueiras. Embora também contenha histórias mitológicas sobre Odin, na maioria dos casos elas servem para ilustrar conhecimentos a serem transmitidos para que os homens os apliquem a suas vidas. 



No tangente às fontes originais, novamente Hávamál é peculiar. Diferente da maioria dos poemas édicos, que geralmente constam em mais de um manuscrito, ele está presente em apenas um, o Codex Regius, “Códice do Rei”, em Islandês, Kónungsbók (GKS 2365 4to), do século XIII. Esta é a única fonte do texto original que chegou até nós. Ou seja, não há como compará-lo com outras versões, o que normalmente é feito com outros poemas édicos, porque elas simplesmente não existem ou nunca foram encontradas.
Primeira página de Hávamál no Codex Regius
Retirado de: http://www.am.hi.is:8087/VefHandritalisti.aspx



Sobre seu conteúdo, à primeira vista, o poema pode parecer desconexo e sem relação entre várias de suas partes. A métrica é inconstante, seguindo em alguns momentos o ljóðahattr e, em outros, o málaháttr[1]. Algumas transições entre estrofes, e mesmo entre versos, parecem não fazer o menor sentido. As razões para isto são amplamente debatidas por diversos autores. 



É consenso entre eles que este texto ao qual temos acesso pelo Codex Regius não é o original. Ele foi copiado de algum outro livro que não chegou aos dias de hoje. Partindo daí, o poema parece ser a reunião de diversos poemas menores, unificados em bloco sem a preocupação de relacioná-los com muita coerência. Esta é a tese de Schneider, 1977, apontada por Evans (1986). Outro estudioso, Klaus von See, não enxerga no poema esta “colcha de retalhos”, como muitos o consideram, e diz que, de certa forma, ele tem, sim, uma unidade. Esta unidade seria produzida pelo esforço do escritor que reuniu diversos poemas menores ou provérbios orais tentando conectá-los, e, em alguns pontos, até mesmo compondo seus próprios versos e estrofes para fazê-lo.



Uma outra hipótese, esta mais mirabolante e com uma dose grande de confabulações, é a de Ivar Lindquist. Segundo o autor, o poema seria, originalmente, uma composição de caráter iniciático utilizada para introduzir jovens à sabedoria pagã de Odin. No entanto, o trabalho original teria caído nas mãos de um cristão fervoroso e, ao mesmo tempo, amante de antiguidades. Uma vez que ali estavam contidas informações pagãs, seu espírito cristão não o permitia difundi-lo. Por outro lado, ele não desejava destrui-lo por se tratar de uma antiguidade valiosa. Assim, “ele sentiu ser seu trabalho emascular esta perigosa relíquia do paganismo embaralhando-a até que se tornasse irreconhecível.” (Evans, p. 12). Lindquist, assim como alguns outros autores que não citei, chegou a reordenar todo o poema para chegar ao formato que, ele acredita, seria o mais próximo do original antes de ter sido embaralhado.



Há ainda outro ponto de debate entre os estudiosos: o conteúdo do poema é integralmente pagão ou há nele influências cristãs posteriores? Não me delongarei aqui nesta questão, mas para aqueles que tenham um interesse nela, indico novamente a introdução do livro de Evans. Resumidamente, alguns autores acreditam que o conteúdo é todo pagão, sem influência do cristianismo, enquanto outros citam semelhanças das histórias narradas com passagens bíblicas para demonstrar uma suposta influência cristã sobre o conteúdo pagão.



Para concluir, apresento aqui uma divisão apontada por Evans que secciona o conteúdo do poema em subgrupos. Levando em conta a ideia de que Hávamál é a união de vários poemas menores, ele é artificialmente dividido em algumas partes para se tentar localizar estes pequenos poemas. A fronteira entre elas é imprecisa, e em muitas situações é difícil de ser delimitada. Os agrupamentos são apenas um esforço de organização artificial. Eis a lista:



I – Versos Gnômicos (referentes à sabedoria): primeiras 79 estrofes, aproximadamente.
II – Aventura de Odin com a esposa de Billing, de 95 (ou antes?) até 102
III – Aventura de Odin com Gunnlod, de 104 (ou 103?) até 110.

IV – Os dizeres de Loddfáfnir: 111 (ou 112) até 137
V – Lista das runas: 138-145
VI – Lista de magias: 146-163



Sobre as postagens

Em cada post desta série, pretendo apresentar:
-O texto original do manuscrito, retirado do site http://www.am.hi.is:8087/VefHandritalisti.aspx.
-Minha própria reconstrução do texto do manuscrito. Como referência e guia, utilizarei tanto a edição de Neckel e Kuhn (1983) quanto a de Evans (1986). Quanto à versificação, mantive-me próximo à de Neckel e Kuhn.
-Minha própria tradução em Português



Gostaria que ficasse claro ao leitor que eu não estou simplesmente mostrando minha tradução. Minha intenção aqui é fazer algo como um "making of", um "behind the scenes", mostrar os bastidores do processo de tradução, que por ser bem minucioso, é também demorado. Infelizmente, não consigo traduzir com tanta frequência por conta de outras obrigações, de modo que minha produção é bem mais lenta do que eu gostaria que fosse. Por isso, não estabelecerei uma periodicidade fixa para as postagens, mas, na medida do possível, tentarei fazê-lo diariamente, pelo menos durante este mês.


Sobre as fontes 

Tanto as edições com o Nórdico Antigo de Neckel & Kuhn quanto Evans buscam transformar o que está no manuscrito original em um texto normatizado. Isto quer dizer que estes autores tentam aproximar o texto do manuscrito com o que se ensina nos livros de Nórdico. Como se sabe (v. "O que é Nórdico Antigo"), a língua variava bastante de lugar para lugar e de época para época, gerando diversas pequenas variações. Os gramáticos esforçaram-se para criar um modelo uniforme, tentando transformar toda esta multiplicidade de variações em uma coisa só. Assim foi cunhado o Nórdico Antigo que se ensina nos livros e gramáticas. No entanto, ele é artificial e não corresponde fielmente ao que era utilizado pelos povos da Escandinávia Viking e Medieval, e nem ao que está na maioria dos manuscritos.
O texto de Neckel & Kuhn, embora seja modificado, é mais próximo ao oroginal do que o de Evans, que é o mais normatizado possível.

Sobre minha tradução

Minha intenção é manter-me o mais fiel possível à ordem e à gramática do Nórdico Antigo. No entanto, quando isto dificulta a leitura ou a torna demasiadamente artificial, opto pela fluidez e inteligibilidade do Português. Quando pertinente, adicionarei notas ao texto para explicar determinadas opções.

Bibliografia

EVANS, David A. H.. Hávamál. Viking Society for Northern Research. London: University College London (1986). 
Disponível em: http://www.vsnrweb-publications.org.uk/Text%20Series/Havamal.pdf


GJELLERUP, Karl e FRØLICH, Lorenz. Den Ældre Eddas Gudesange. Kjøbenhavn: P. G. Philipsens Forlag (1895)
Disponível em: http://archive.org/stream/denldreeddasgud00saemgoog#page/n0/mode/2up

GORDON, E. V. e TAYLOR, A. R.. An Introduction to Old Norse. Oxford: Oxford University Press (1956)

LARRINGTON, Carolyne. The Poetic Edda. New York: Oxford University Press (1996)


NECKEL, Gustav e KUHN, Hans. Edda: die Lieder des Codex Regius (Band I, text). Heidelberg: Winter (1983)
WOLF, Kirsten. Daily Life of the Vikings. Connecticut – London: Greenwood press (2004)

Dicionários e Glossários utilizados em minha tradução:

FAULKES, Anthony. Hávamál - Glossary and IndexViking Society for Northern Research. London: University College London (1987) 
Disponível em: 
http://www.vsnrweb-publications.org.uk/Text%20Series/Glossary%20and%20Index.pdf

LA FARGE, Beatrice e TUCKER, John. Glossary to the Poetic Edda. Heidelberg: Carl Winter Universitätsverlag (1992)

ZOËGA, Geir T.. A concise dictionary of Old Icelandic. New York: Dover (2004 [1910])


[1] para uma explicação sobre a métrica da poesia nórdica, v. Gordon, 1956, pp. 316 e 317.

Boas vindas

Fala, pessoal. Sejam bem vindos. Pra quem deseja saber um pouco mais sobre mim e este blog, sugiro que clique na aba “Sobre” no menu. Resumidamente, pretendo compartilhar aqui meus estudos na área tanto da língua quanto da cultura nórdica. Os posts devem variar entre resumos de capítulos, sugestões de comentadores, informações sobre autores, sagas, poemas, apresentação de traduções próprias, entre outras coisas que eu achar pertinentes. Críticas construtivas e comentários são algo que eu aprecio bastante, então não hesitem em postar de maneira respeitosa suas opiniões quanto às minhas traduções ou qualquer outro conteúdo.