O que é Nórdico Antigo


O termo Nórdico Antigo pode ser usado de uma maneira abrangente para designar a língua da Escandinávia na Era Viking e Época Medieval, período que se estende dos séculos VIII a XIII d.C.. No entanto, alguns estudiosos o utilizam de uma forma mais precisa para se referirem apenas ao tronco Nórdico Ocidental das línguas Germânicas a partir do século XI d.C.. Isto é, Nórdico Antigo seria a língua da Noruega e de suas colônias, dentre as quais se destaca a Islândia, ao fim da Era Viking e início da Época Medieval. Esta é uma diferenciação em relação ao tronco Nórdico Oriental, do qual faz parte o Sueco Antigo e o Dinamarquês Antigo, e as línguas das colônias destes dois países. A divisão é feita devido a diferenciações linguísticas marcantes entre os idiomas falados nestas duas regiões da Escandinávia na época. Antes disto, elas eram mais homogêneas e chamadas simplesmente de “Nórdico Viking” ou “Nórdico Comum”.

Uma breve história

O Nórdico faz parte do tronco Germânico de línguas indo-europeias. A partir do século I d.C., devido a acentuadas diferenciações entre as línguas faladas em diversas regiões habitadas por povos germânicos, este tronco é subdividido em Germânico do Norte, do qual o Nórdico faz parte, Germânico Ocidental, que mais tarde originou línguas como o inglês, alemão e holandês, e Germânico Oriental, referente ao extinto gótico (Wolf, 2004, p. 42).


Pedra Jelling, da Dinamarca, com inscrições rúnicas
Foto: http://static.flickr.com/182/430845231_890e99ca08.jpg

De acordo com Gordon (1956), o Germânico do Norte, falado pelos habitantes da Escandinávia, é conhecido como “Nórdico Primitivo” dos séculos I até VII d.C., período em que alguns aspectos do dialeto Germânico, como vogais e desinências, ainda eram visíveis. Dos séculos VII ao XI d.C., a língua é chamada, como exposto anteriormente, de “Nórdico Viking”, ou “Nórdico Comum”.  Neste período, vogais átonas foram perdidas e diversas mutações de vogais e consoantes ocorreram nas palavras. Os registros linguísticos desta época a que temos acesso são, majoritariamente, inscrições rúnicas. Estas possuem pouquíssimo valor literário, pois, em sua grande maioria, são apenas nomes dos donos de utensílios, homenagens a parentes ou amigos em pedras cerimoniais, ou assinaturas de fabricantes de objetos.


Primeira página de Vǫluspá no manuscrito AM 754 4to
Fonte: http://handrit.is/en/manuscript/imaging/is/AM04-0754#0001v

A partir do século XI até meados do século XIV, quando entra em vigor a divisão entre Nórdico Ocidental e Oriental, as línguas passam a ser chamadas de “Nórdico Literário”. Nesta época, começou-se a utilizar o alfabeto latino, introduzido pelo Cristianismo, acrescido de algumas letras nórdicas como ð ("eth") e þ ("thorn"), e a cultura da escrita, sobretudo na Islândia, fortaleceu-se enormemente. É neste contexto em que foi produzida a vasta literatura em prosa de então, como as Sagas e a Edda de Snorri, e em que os poemas escáldicos e édicos, que antes circulavam apenas de maneira oral, foram registrados em escrita.



A imensa maioria dos manuscritos que chegaram aos dias de hoje são originários da Islândia desta época e, como se viu, o Cristianismo teve um papel preponderante no registro escrito dos mitos e histórias nórdicas. Lindow (2005, p. 22) afirma: “De fato, uma ironia da mitologia escandinava é que, sem a cristianização, ela não haveria sido registrada, pois foi a Igreja quem trouxe a cultura e tecnologia da escrita (...)”. Ou seja, toda a literatura a que temos acesso hoje foi escrita após a cristianização. Isto levanta diversos debates sobre o quanto do que chegou até nós é realmente referente a um mundo pagão ou se, e onde, houve influência cristã nas histórias. Lindow (2005), dá informações sobre diversas teorias e estudiosos sobre esta questão.


Segue, esquematicamente, um quadro de evolução do Nórdico baseado nas informações expostas acima:


Referências bibliográficas:

GORDON, E. V. e TAYLOR, A. R.. An Introduction to Old Norse. Oxford: Oxford University Press (1956) 

LINDOW, John. Mythology and Mythography. In: “Old Norse-Icelandic Literature - A critical guide”. Toronto: University of Toronto Press (2005)

WOLF, Kirsten. Daily Life of the Vikings. Connecticut – London: Greenwood press (2004)

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